quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O ato de escrever

É difícil escrever sem se perder. Eis o destino dos escritores: perder as rédeas de si mesmo e desembocar num lugar desconhecido. Engraçado? Instigante? Assombroso? Seja qual for a reação, é indiscutível que escrever demanda coragem, desprendimento, e até, uma certa dose de irresponsabilidade. O escritor não é senhor de si mesmo, e portanto é inapto a assuumir compromisso. Sequer terá dominío sobre se, sendo que o ato de escrever implica em se deixar guiar pela sua arte. Arte arredia, em alguns casos hostil, que orienta seus súditos a caminhos tortuosos, espinhentos, e as vezes, reservando abismos.

Ser escritor é aceitar a condição humana, aspirando ser deus, o literato supremo. Não há classe mais vil, nem mais vaidosa. O combustivel que alimenta a chama em seus corações é o desejo por honra, glória, e reconhecimento. E tudo isso, por acreditar-se que a eternidade, real desejo dos poetas, esteja nas honrarias.

Escrever é se aventurar numa estrada incerta.  E acredite, não serão raras as vezes que terá que se retratar. Só os mudos não pecam pela lingua, assim como só os iletrados não são traidos pelas penas. Acostume-se em servir a humanidade com bobagens em bandejas imperiais. Se o estilo for interessante, não darão atenção ao conteúdo. E por fim, entenda que o prêmio dos escritores são inimigos.

O ato de escrever é um vicio, mais do que uma virtude, e acabará por destruir os seus escravos. E como aos homens não lhes cabe nada além do direito de escolher a maneira de serem consumidos, a escrita se mostra boa opção.